segunda-feira, 7 de março de 2016

O Musiclown - Grupo Bagagem de Teatro



     No último domingo, dia 6 de março de 2016, estive na estreia do Grupo Bagagem, dentro do projeto Maranguape Encenas. 
    O espetáculo apresentado, "O Musiclown", é uma divertida comédia onde professor e aluno descobrem o valor da amizade em meio a uma aula e música.
       Com um texto de construção própria do grupo, e direção de Anthony Lobo, "O Musiclown" expõe de forma lúdica e acessível, a discussão sobre gostos musicais, disciplina, responsabilidade e amizade.
      Durante uma hora de espetáculo, a plateia tem oportunidade de interagir com os clowns. Seja através das palmas para marcar o ritmo das músicas ou mesmo com os gritos das crianças para denunciar as peripécias de Pillo - o aluno. 
    "O Musiclown" é uma ótima oportunidade para os atores Pristley Pereira e Anderson Costa mostrarem versatilidade artística na dança e música - que eles mesmos executam durante o espetáculo.
        Quem pôde assistir concordou que, mesmo com as poucas palavras proferidas pelos clowns, não foi nem um pouco difícil entender a mensagem do espetáculo: cultivar o amor pelas amizades.
        O espetáculo do Grupo Bagagem de Teatro estará em cartaz nos dias 13, 20 e 27 de março, na Sociedade Artística Maranguapense, Sempre em duas sessões: 18h30min e 20h. 

O bardo cantará muitas músicas sobre o Musiclown. E ainda usará flauta e bongô em algumas delas.


       


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

The Walking Dead - A Ascensão do Governador




A franquia de zumbis mais celebrada da década acaba de conquistar um novo universo. Inspirado na série de quadrinhos best-seller do New York Times — publicada desde 2003 e vencedora do Eisner Award —, que originou o bem-sucedido seriado de TV homônimo, The walking dead: A ascensão do Governador, primeiro volume de uma trilogia, narra a origem de um dos mais perversos personagens da ficção. Criador dos quadrinhos e um dos produtores do seriado que já bateu diversos recordes de audiência nos Estados Unidos e foi finalista em várias categorias no 68º Golden Globe Awards, incluindo Melhor Série Dramática de TV, Robert Kirkman é co-autor deste romance com o veterano do gênero de horror Jay Bonansinga. O livro apresenta aos leitores um novo núcleo de personagens — já bastante conhecido dos fãs das HQs e que deve despontar em breve nas próximas temporadas da série, exibida no Brasil pela Fox.

No mundo de The Walking Dead não existe vilão maior do que o Governador, o déspota que comanda a cidade de Woodbury. Com seu senso doentio e muito particular de justiça, ele força prisioneiros a lutarem contra zumbis em uma arena, para delírio dos moradores entediados. Também não é incomum vê-lo dilacerar as entranhas daqueles que cruzam seu caminho. Eleito pela revista americana Wizard o “vilão do ano”, ele é o personagem mais controvertido em um mundo dominado por mortos-vivos.
Agora, os fãs irão descobrir como ele se tornou esse homem e qual a origem de suas atitudes extremas. Para isso, é preciso conhecer a história de Phillip Blake, sua filhinha Penny e seu irmão Brian. Junto com dois grandes amigos, eles formam um grupo de resistência nada comum. O objetivo é cruzar o estado da Geórgia, percorrendo os 30 km que separam Waynesboro de Atlanta. A missão aparentemente simples é na verdade um desafio: estamos no meio de um apocalipse zumbi.
As cidades foram abandonadas, os meios de comunicação estão mudos e o único som do universo são os gemidos incessantes de seres que um dia já foram humanos. Lutando para encontrar comida, armas e esconderijos seguros, os cinco vão enfrentar um cenário de completa desolação a caminho do mítico centro de refugiados. A única certeza de Phillip é a de que fará tudo para salvar sua família. Quem sabe assim também consiga salvar a própria alma.
Com um desfecho surpreendente, a trama revela novos elementos e fornece aos leitores pistas para compreender melhor os personagens e preencher algumas lacunas do enredo com as peças que faltavam.
***
A estrutura da narrativa mostra-se diferente tanto do que é apresentado nos quadrinhos quanto o que vemos na série da FOX. Isto porque a história é contata em loops. Alguns elementos do dia-a-dia do grupo de sobreviventes acabam ativando flashbacks. Estas lembranças então são usadas para ancorar e justificar certas reações no grupo. Este recurso é muito bem vindo pois não permite que a narrativa adquira um caminho muito linear. Mas este é um estilo que deve bem muito bem conduzido, evitando os picos de anti-climax. 
Vários pontos internos à história podem ser ressaltados aqui. Mas pontos interessantes são algumas falas de personagens que levam a crer que eles conhecem muito mais a cerca do mecanismo de criação dos mortos-vivos do que o que temos no caso do grupo de Rick e Lori. 
Outro aspecto que poderá levar ao interesse dos fãs do gênero "Apocalipse Zumbi" e em particular aos seguidores de "The Walking Dead" é que a história começa a ser contada de um ponto mais bem localizado que no caso de Rick. aqui, sabemos que a "praga" na região,  tem por volta de cinco dias. E ao longo da insólita viagem para Atlanta, os personagens se deparam com incêndios, acidentes e saques recentes. para se ter uma idéia, a rede elétrica ainda funciona e os canais de TV transmitem (mensagens de emergência é bem verdade). 
Vale a pena ler este livro? Sim. E existem vários motivos que justifiquem esta ação. Primeiro: é uma linguagem diferenciada para contar histórias de um mesmo universo ficcional. O mundo de The Walking Dead foi inicialmente construído sobre o alicerce dos quadrinhos. E quadrinhos lembram o cinema mudo a partir do momento em que tem que se utilizar de uma maior expressão visual para comunicar ao público os sentimentos propostos. Segundo: não é mais do mesmo. Centralizado num núcleo de personagens diferenciado, o livro é capaz de oferecer visão complementar do apocalipse inicialmente fisico e, que após durar uma semana, desemboca no apocalispse moral. E como é sempre bom lembrar: os zumbis são coadjuvantes no cenário the Walking Dead. A crise moral que se segue é a cereja do bolo. Terceiro: é uma mídia que instiga a imaginação. Mesmo contaminada com os estímulos das HQ's e da TV, a imaginação ainda pode ser exercitada e os autores, reconhecendo esta "limitação" do livro, partem para descrições gerais, acreditando que o leitor já tenha tido contato com o universo The Walking Dead através das mídias mais visuais. 

O Bardo cantará muitas canções sobre este livro. Mas bem baixinho, para que nenhum zumbi possa ouvir.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Silêncio dos Inocentes



A história do assassino serial Hannibal Lecter ganhou projeção mundial a partir do filme O Silêncio dos Inocentes, de 1991. No filme, Jodie Foster e Antony Hopkins, nos papéis de Clarice Starling e Hannibal Lecter travam uma relação pai-filha, professor-aluno, médico-paciente enquanto um assassino serial (Buffalo Bill) precisa ser detido antes de matar sua sexta vítima.
O filme é um clássico, ganhando até mesmo o título de  "culturalmente, historicamente e esteticamente" importante pela Biblioteca do Congresso e foi escolhido para ser preservado no National Film Registry em 2011.
Fiquei curioso para ler o romance original. O livro de Thomas Harris, lançado em 1988 é o segundo da série que foi aberta com o Dragão Vermelho (1981).
A leitura dO Silêncio dos Inocentes é bastante fluida e de cara é possível perceber porque o filme ganhou Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. O que vimos no cinema é suficientemente fidedigno para não comprometer a narrativa. Mas é importante notar que vários elementos do livro não estão presentes na obra escrita.
A profundidade da relação Starling-Lecter é bem maior no livro. A "terapia" que ele conduz revela coisas sobre o passado de Clarice que não puderam ser exploradas no filme por simples questões de tempo.
Outra diferença é em relação ao assassino Buffalo Bill. No livro, sua ação, embora extremamente criminosa fica melhor "justificada" e esta tal justificativa é bastante convincente.
Thomas Harris trabalhou durante muitos anos como repórter policial e isto deu ao mesmo, conhecimento tanto do jargão técnico quanto das girias internas dos serviços de pesquisa forense. Mas o mais admirável é o cenário psicológico que Harris consegue criar. Muito hábil com as palavras, ele sabe criar suspense entre os capítulos. Outra característica do autor, é a capacidade de permitir que o leitor também possa tirar suas conclusões de certas intenções das personagens.
A experiência de ler um livro, que originou um filme tão emblemático é bastante interessante. Obviamente que as imagens das personagens ficam contaminadas com a memória visual já estabelecida. E algumas vezes lembrei de um comentário que alguns professores de linguas estrangeiras utilizam: seu maior entrave no aprendizado de outro idioma é sua lingua original. E foi um pouco disto que senti. Ficava esperando que certos acontecimentos se desenrolassem com a mesma velocidade e intensidade que no filme, o que era um erro. Acabei descobrindo a atração por uma leitura mais descompromissada com minha memória, onde pude ver as personagens por ângulos que o filme não pôde explorar.
Assim, mesmo para quem já conhece bem o olhar frio e distante do Dr. Lecter, através da brilhante interpretação de Antony Hopkins (Oscar de Melhor Ator, 1992), não deixem de experimentar esta leitura que é igualmente instigante. É fascinante deixar-se apreender por palavras e sentir o frio na barriga nas páginas finais,

O bardo sente prazer em cantar muitas canções sobre a Mariposa da Morte.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Resenha: Quando me amei de verdade...


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McMillen, Kim
Quando me amei de verdade/ Kim McMillen & Alison McMillen Rio de Janeiro, Sextante, 2003.
Tradução de: When I loved myself enough
87 pag.

     Este é um pequenino livro. Perfeito para caber na bolsa. Ele me lembrou bastante o Minutos de Sabedoria de C. Torres Pastorino, editado pela Editora Vozes. Fiz esta associação tanto pelo tamanho diminuto (embora o Minutos seja ainda menor), quanto pelas pílulas de sabedoria que eles tentam passar.
        Quando me amei de verdade é, essencialmente, um livro sobre o amor. Mas este amor, está muito mais evidente na proposta do livro no que em seu conteúdo em si.
        Os pensamentos expostos nas páginas retratam as percepções de Kim McMillen, que morreu poucos meses antes da publicação deste livro. Mas poderíamos alimentar a seguinte dúvida: Kim morreu poucos meses antes da publicação ou a publicação ocorreu poucos meses após sua morte? 
         A mensagem de amor que o livro nos dá, não se encerra nos pensamentos da autora, mas na ação de reunir tais pensamentos que estavam muitas vezes dispersos, escritos nas cadernetas de compras de uma mulher de 52 anos de idade. Alison McMillen, a responsável por esta ação de reunir os escritos de sua mãe, fez isso como uma forma de homenageá-la por sua forma simples e otimista de encarar a vida e, principalmente, de reconhecer a necessidade de amor próprio.
         É um livro sobre otimismo. Nenhum pensamento exposto aqui é essencialmente, complexo. Nada é profundamente filosófico mas, se pudermos parar um pouco para verificar as pequenas verdades nos 78 pensamentos de Kim, talvez possamos reconhecer o que há de universal em todos nós, independente de se ter 14 anos de idade ou ser uma mulher divorciada, de meia idade e de vida aparentemente comum. 



O Bardo cantará três canções sobre este livro. Canções sobre se amar de verdade.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Autor: Carl Sagan


     Carl Edward Sagan (09/11/1934 - 20/12/1996) foi um astrônomo estadunidense. Também foi um astrofísico, cosmologista, divulgador da Ciência. Foi um dos mais populares cientistas do Século XX. Publicou mais de 600 artigos científicos. Foi co-autor ou editor de mais de 20 livros. Defensor do ceticismo e do método científico. pioneiro na exobiologia, foi também um importante incentivador da busca de vida extraterrestre.
         Muitas das contribuições científicas de Sagan foram fundamentais para a determinação da temperatura da superfície de Vênus. Nos anos 60 ninguém conhecia muito bem as condições da atmosfera daquele planeta. Sagan listou várias possibilidades que foram publicadas no livro Planets. Ele lançou um cenário seco e quente, em contraponto ao aspecto paradisíaco que muitos acreditavam. Ele investigou as emissões de rádio do planeta e estimou a temperatura da superfície em 500° C. Como cientista visitante do Laboratório de Jato Propulsão (JPL), ele contribuiu com a primeira missão Mariner para Vênus. Trabalhando no projeto e gerenciamento do projeto. A Mariner 2 confirmou suas projeções a respeito das características da superfície de Vênus, em 1962.
         Sagan foi o primeiro que sugeriu que a lua Titã poderia ter um oceano de compostos líquidos em sua superfície e que a lua Europa pudesse ter água abaixo de sua superfície. Isto daria a Europa um potencial para colonização. O oceano subterrâneo de Europa foi parcialmente confirmado pela sonda Galileo. os mistérios de Titã também foram resolvidos com a ajuda de Sagan. 
           Podemos apontar também as contribuições para o entendimento das estações de Marte. 
      Sagan foi um dos maiores defensores da busca por vida extraterrestre. Tendo conduzido várias pesquisas para comprovar a possibilidade de fabricação de aminoácidos à partir de radiação em moléculas orgânicas.
         Carl Sagan tinha muita habilidade em convencer as pessoas a ter um melhor entendimento do Cosmos. Ressaltando a pequenez da Terra e do próprio homem frente a imensidão do Universo.
        Ele produziu, a partir de 1977, uma série de TV - Cosmos: uma jornada pessoal.Cosmos abordava desde a teoria científica da Origem da Vida até a perspectiva filosófica sobre nosso lugar no Universo. Em 1980 a série Cosmos ganhou o Emmy. Tem sido desde então exibida em mais de 60 países e já foi vista por mais de 500 milhões de pessoas.
         Sagan morreu de pneumonia, em decorrência de complicações de seu quadro de câncer. Ele tinha 62 anos de idade.

Principais Publicações


     

O Bardo sempre tem boas canções sobre Carl Sagan.

Resenha: Ilha das Flores



Ilha das Flores -1989
Direção: Jorge Furtado.
Roteiro: Jorge Furtado.
Categoria: Documentário

     Este documentário mostra o cotidiano de habitantes da Ilha das Flores: um lixão na cidade de Porto Alegre - RS.
      Vencedor de nove prêmios no Festival de Gramado (1989), ganhador do Urso de Prata do festival de Berlim (1991). O filme usa linguagem onde denotamos extrema ação, conceituação e abordagem cheia de referências cíclicas, mostrando a forma subumana que habitantes do lixão se encontravam.
     Quando em exibição livre, alguns expectadores sentem-se incomodados com o estilo da técnica narrativa e acabam por atribuir um caráter infantil a forma de comunicação deste curta. Não fosse uma tônica bem humorada que pontua e faz contraponto entre imagens e o texto narrativo em si, a aceitabilidade desta obra estaria comprometida. O que beneficia "Ilha das Flores" e o torna atrativo a vários públicos é a sua curta duração, trazendo o expectador rapidamente para o núcleo polêmico da discussão filosófico-social da humanidade. Ainda assim, o filme é cheio de lacunas, que deverão ser preenchidas com as devidas associações ontológicas, além da busca por solução para a problematização da conceituação de "Liberdade".
     Bem no início, o filme delimita o universo em que a narrativa transcorre. Quando a frase "Deus não existe." surge, temos certeza de uma abordagem crítica à religiosidade. Diria que não só existe uma margem aos questionamentos às Teogonias, mas uma ênfase aos aspectos políticos, econômicos e sociais que envolvem as personagens. isto se torna marcante quando, no decorrer da película, a exposição objetiva nos guia para a ciência das injustiças humanas geradas pela influência das várias esferas de atuação dos homens.
     Numa conferência em 11 de maio de 1996, Carls Sagan falou dos seus pensamentos sobre a histórica fotografia do Planeta Terra, obtida a partir da Voyager I, quando a sonda estava a 6,4 bilhões de quilômetros de distância: "Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portarmos mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido." [1]. Sagan tem a opinião de que a pequenez do homem não é suficiente para aplacar sua arrogância que acaba gerando situação de autodestruição da humanidade. E não haverá intervenção externa que possa nos salvar. Os homens é que precisam aceitar a condição de mantenedores da própria humanidade. 
     Com a determinação que circunscreve a ação, teremos a disposição a interpretação geográfica, moral, ética, econômica, política e até religiosa. Quando o filme nos mostra o lugar onde ocorre a história, temos linguagem moderna, dado seu aspecto científico: as coordenadas geográficas.Isto nos oferece noções de exatidão e precisão. Descrevendo os personagens envolvidos com pouca personalização, sempre apontando caráter humano mais generalistas. 
O que percebemos é o uso bastante recorrente da corporeidade, que se apoia na ideia física do existir, através da manifestação biológica dos seres. Tal recurso cartesiano imprime ao curta um aspecto mais formal. Uma vez revestido com esta defesa de modelo conceitual, ao final oferece-se como instrumento objetivo para futuras discussões em seu conteúdo e não em sua forma.
Obviamente o filme não se constitui essencialmente "universal" em seu conteúdo narrativo. Fato este que é compensado com a extrema ação de conceituar os elementos expostos. Isto possibilita tornar maior, o horizonte de audiência potencial, passível de ser afetado com a proposta do diretor. 
O que permeia "Ilha das Flores" é o tom irônico da ideia da superioridade humana. Isto fica muito evidente quando o texto insiste em nos informar que os aspectos principais que tornam os humanos distintos dos outros seres são as presenças do "telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor". Estes aspectos de diferenciação entre humanos e demais animais se encaixam na categoria Corporeidade e as derivações que se seguem, tangenciam as categorias de Alteridade, Transcendência e Subjetividade. 
Após a apresentação do cenário complexo e humanos simplificados, o expectador passa a receber explicações sobre os elementos que brotam com extrema velocidade. É importante ressaltar aqui que a estrutura do filme sugere que este expectador não seja humano. Um extraterrestre, talvez.
        A constante conceituação presente em todo o tempo nos ajuda a perceber o campo semântico empregado por Jorge Furtado, útil para as definições de "dinheiro" e "propriedade-dono".     
        A "bondade" que o dono dos porcos tem em permitir que cada grupo de humanos permaneça, por 300 segundos, dentro de seu terreno, para escolha de material de origem orgânica, surge porque seus porcos já tiveram vez naquela tarefa.
         A obtenção de bens está ligada a troca de valores, mais exatamente, dinheiro. Tal prática se tornou acessível com a liberação do lucro na Idade Moderna. Se o problema das mulheres e crianças da Ilha das Flores fosse somente a falta de dinheiro, isto as colocaria em pé de igualdade com os porcos, visto que eles também não possuem este bem. Lembremos, no entanto, que é a "falta de dono" que faz a diferença neste e em muitos outros casos.
          O "dono dos porcos" é o cuidador dos porcos. Ele provê abrigo e alimentos selecionados. Assim, os humanos, que não possuem dono, na verdade não possuem cuidador. É a ligação com a frase inicial: Deus não existe. Desta forma, sem alguém para prover abrigo e alimentos para os humanos da Ilha das Flores, estes se situam depois dos porcos, na hierarquia de prioridade de escolha de alimentos.Acabamos então por aceitar que, a diferenciação biológica que os humanos possuem não é capaz de lhes dar supremacia sobre os porcos do lixão.
       Quando o conflito está exposto, a linguagem do filme migra para aspectos mais subjetivos. A Liberdade aparece como um novo fator de diferenciação entre homens e demais seres.
Entendo por liberdade, a capacidade que os humanos tem de se descondicionar, em contracorrente aos instintos ou ao peso do modelo social. mas como esta liberdade individual permeia cada componente da humanidade, isto a invalida como diferencial interno. As tensões sociais surgem apoiadas na disputa pela Liberdade, sim. Mas tal alcance é expandido ou retraído conforme os elementos de suporte para cada pessoa. Tais elementos são manifestações de Poder.
 Ao final, o filme assume um caráter poético complementando o clima clássico e heróico do tema que ouvimos ainda na abertura: trecho da Ópera Il Guarany, de Carlos Gomes. Reafirmado no pensamento de Cecília Meireles, que é trecho do texto Romanceiro da Inconfidência: "Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!"




O bardo cantará cinco canções sobre este vídeo.

            
           

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Resenha: Dicionário Filosófico - Voltaire



Dicionário Filosófico, Voltaire
Título Original: Dictionnarie Philosophique.  Copyright desta Tradução: Editora Martin Claret, 2006.

Sinopse

     Voltaire, um dos filósofos mais influentes de seu tempo, escreveu abundantemente: a primeira edição de suas obras completas tem setenta volumes. Entre elas, algumas obras-primas. 
     Com o célebre Dicionário Filosófico (1764), Voltaire se aproxima dos enciclopedistas, salvo no tocante as teorias estéticas, em que sempre se manteve classicista. Esta obra foi traduzida para quase todas as línguas.
     Voltaire detestava a Igreja Católica e todas as formas de intolerância, mas não era ateu. Defendeu a burguesia contra a aristocracia feudal e antecipou a Revolução Francesa.


      Este é um dicionário concebido e escrito de forma não linear. Os verbetes expandem-se e muitas vezes já assumem o caráter idéia completa a ser desenvolvida pelo filósofo. Como exemplo, posso citar o conceito de Espírito, que é dividido em seis seções. 
      Diferentemente de um dicionário comum, neste trabalho, Voltaire valida todo um sistema de pensar. As definições que existem no livro, se complementam e oferecem ao leitor um retrato do pensamento iluminista.
      Eu, particularmente, gosto da maneira como as ideias são apresentadas. A forma de escrita é leve e, se eventualmente, algum termo isolado não ficar suficientemente "definido", o complemento da leitura poderá oferecer a visão do sistema filosófico geral, facilitando as interpretações.
      Mais do que um estudo semântico, o Dicionário Filosófico é uma fonte de desconstrução da superstição e religiosidade dogmática. Cheio de um humor tido como agressivo, pelos mais devotos, este livro funciona para leitores não apaixonados pelos ditames católicos.
      Voltaire rebaixa muitos textos bíblicos à condição de meras fábulas de pastores hebreus. E resume seu pensamento religioso quando expõe os conceitos de Catecismos chinês, japonês e "do pároco". 
      É um excelente livro para se apreender o cerne do Iluminismo. É o início à critica ao pensamento Religioso Medieval.

         
O Bardo cantará cinco canções para este livro.